Ninguém disse que era fácil



Dói, doi muito já não te ter aqui. Dói, dói de mais já não te ouvir. Dói, doi imenso o “nós” já não existir. Quanta dor pode caber dentro de nos antes de explodirmos? Quantas lagrimas podemos conter ate nos transformarmos num oceano?
É verdade que quem olha para mim vê alguém feliz, que segui em frente, sem feridas, sem dores, sem saudades. É verdade que em muitos dos dias eu até sou essa pessoa, leve e feliz, que consegue estar em paz, em equilíbrio, em harmonia. Mas também é verdade que quem me consegue ver, consegue perceber que há mais por debaixo de tudo isso. Que ainda existe sangue a escorrer das feridas, que ainda existem lagrimas a espera do momento cero para verterem, que ainda existe saudade enrolada num grande no na garganta. Mas ninguém disse que seria fácil
Ninguém disse que é fácil deixar para trás o amor da nossa vida, ninguém disse que é fácil soltar as memorias, ninguém disse que é fácil libertar-nos daquilo que temos de mais precioso.
Para muitos quando alguém acaba com uma relação, é porque simplesmente deixou de amar... quem me dera que fosse tao simples, tao linear. Se acabar significasse o fim do amor, eu não viveria a 6 meses com tanto amor dentro de mim a espera de vazar. Porque fim de uma relação não significa o fim do amor , disso eu tenho a certeza.
As memorias continuam, os sonhos por concretizar, os planos por realizar, os momentos por viver... tudo isso continua a martelar a nossa cabeça durante horas a fio. A vida que tantas vezes planeamos juntos, a casa, a família, as viagens.... todo o futuro que construímos juntos no nosso canto secreto continuam aqui. Tudo o que vivemos juntos, os dias, os passeios, as noites, o encontro de corpos, a união das almas...todo o passado construído continua aqui, mas agora continua só em mim, e não em nós. E não sei o que dói mais, lembrar o passado, pensar no futuro que me escapou pelas mãos, ou saber que o nosso amor já não se conjuga no tempo presente.
Seria tão fácil se o amor simplesmente se transformasse em outro sentimento. Vejo tanta gente transformar amor em desprezo, em raiva, em ressentimento, em vazio, em nada... e eu continuo aqui, como sempre, a conter um oceano de sentir, num corpo tão pequeno.
Como queria seguir em frente como todos fazem, pegar e amar outro alguém, ou apenas permitir que outra pessoa tocasse o meu corpo como só tu fizeste. Mas não sei se sou capaz de entregar o meu corpo, quanto mais a minha alma. Só tu me despiste de todos os modos, ainda hoje és tu que o fazes, ainda hoje é do teu olhar que fujo, por saber que esse olhar me lê como mais nenhum é capaz de fazer. Conseguiste despir-me a roupa, conseguiste despir-me o corpo, conseguiste despir-me a alma. E agora sinto-me nua. Agora sinto-me a espera. A espera de ser capaz de me vestir e partir para longe.
Existem dias em que o consigo fazer, existem dias que parece que já superei, que já consegui voltar a mim, que já consegui esquecer o teu toque e as saudades dele, que já consegui esquecer a tua voz, e a falta que ela me faz, que já esqueci o que és, e o quanto preciso de ti, que já esqueci o que eramos, e o quanto me dói já não sermos mais. Tem dias que parece que tudo isso passou, que toda eu me refiz, que toda eu me chego, que toda eu estou curada e liberta. Tem dias que acho que me reencontrei, que reencontrei a minha voz, a minha essência, a minha verdade. Que já não preciso de ti, que já não preciso de nós. Mas noutros dias...que dói como tudo, tem dias que não suporto não ter o teu abraço, que me contenho para não marcar o teu numero porque apenas precisava de ouvir a tua voz, que engulo as lagrimas, para não chorar de saudade. E tu sabes bem o quão boa eu sou a engolir lagrimas, sabes melhor que ninguém. Porque me conheces melhor que ninguém. Conheces todo o meu ser, todos os meus lados, conheces a luz e a escuridão que há em mim, conheces os meus maiores sonhos, os meus maiores medos. Foste tu que sempre escutaste as minhas lagrimas contidas, era tu que eras o meu abrigo, eras tu que eras o meu farol. E agora? Agora eu sou um barco em alto mar, que vê o farol, que sabe que esta ali a sua salvação, mas que também sabe que não pode ir para lá, então simplesmente segue em alto mar, em busca de algo, sem saber o que , sem saber como. Eras tu o meu riso mais sincero, a minha gargalhada mais estridente. Eras tu que estavas la sempre, no melhor e no pior. Foi contigo que partilhei todas as conquistas e todas as derrotas, foi contigo que discuti todos os assuntos, hoje vejo e discuto sozinha, imaginando o que dirias se visses aquela noticia, era contigo que debatia sobre series e filmes e todos os seus sentidos peculiares, e hoje é sozinha que te imagino a gritar quando algo acontece na serie e eu sei que ias odiar, ou te imagino a rir e a dizer eu bem avisei que isto ia acontecer. Agora tudo aquilo que fomos e tudo aquilo que vivíamos, continua vivo, mas apenas na minha mente, apenas nas minhas memorias. Agora és a minha melhor lembrança, és a lembrança do farol, para um barco perdido em alto mar. Onde antes havia farol, hoje há a lembrança do mesmo.
Não é fácil seguir em frente, ninguém disse que seria. Não é fácil achar que posso estar a fazer a coisa certa por nós, mas ao mesmo tempo viver com a dúvida, será que estou a perder o amor da minha vida? será que estou a mandar embora a minha felicidade, a minha lotaria? será que algum dia serei tão feliz no colo de alguém como era no teu? Será que algum dia me sentirei tão inteira com alguém como sentia contigo? será que algum dia outro cheiro, outra voz, causaram o mesmo efeito que os teus causam em mim ? será que algum dia alguém vai ser capaz de me tocar como tu tocavas, de me despir como tu fazias? será que algum dia alguém me vai realmente ver?
Não é fácil, ninguém disse que era. Mas quero acreditar que tudo passa, todas as dúvidas, todas as dores, todas as lagrimas, toda a saudade. Eu sei que estou feliz na maioria dos dias, mas existem dias em tudo isto surge na minha mente, e eu não posso nega-lo. Sei que eramos amor, mas também sei que muitas vezes fomos dor e fomos lagrimas, sei que eramos muito, mas por vezes esquecemos-mos de ser inteiros. Quisemos conter-nos, e acabamos sufocados. E amor não é isso. Amor é ser capaz de dizer adeus, mesmo quando tudo em ti grita para pedir fica. É ser capaz de ir embora, por saber que não podes dar o teu melhor ao outro, mesmo que o outro desperte o teu melhor. E ser capaz de abdicar de nós, por querer que outro se encontre e seja inteiro sozinho. E abdicar do nos pela felicidade do outro, mesmo que o outro não seja capaz de ver isso.

Sabes bem, ou se não sabes devias saber, que eu te amo. Que te amo muito. E por te amar tanto, tive que te deixar ir, por mais que me doesse. Porque não e fácil, não é nada fácil acredita. Há relações que morrem, a chamas que apagam, a calor que se extingue, mas connosco não existiu nada disso, e talvez por isso seja tao difícil. Por saber que as borboletas ainda dançam dentro de mim, por saber que o teu olhar ainda me faz disparar o coração, por saber que o teu toque , o teu cheiro, o teu abraço ainda são o meu ponto fraco, por saber que a tua voz ainda aquece o meu coração e a tua mente ainda lê os meus pensamentos . Por saber que os nossos corpos ainda se completam, por saber que eles ainda sabem de cor um ao outro, que a minha boca ainda não se esqueceu de como são os nossos beijos. Talvez por ainda sabermos o que cada um sente e pensa apenas com um olhar, por ainda sermos capaz de comunicar estando em silencio, por no meio de uma sala cheia, os nossos olhares continuarem a encontrar-se. Talvez por isso ter existido sempre, mesmo depois do fim, seja tão difícil dizer adeus. Porque quando o fogo acaba, quando a conexão de extingue é fácil seguir, mas e se tudo isso ainda existe, como se faz? como se esquece? Como se prossegue?

Sei que o que tínhamos não era perfeito, mas era perfeito para nós, e isso deixa saudade.

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